O passo começa o voo que vai do chão para o infinito. *Mário Lago

domingo, 10 de novembro de 2013

Mandalas Florais


Mandala:

Diagrama composto de formas geométricas concêntricas, utilizado no hinduísmo, no budismo, nas práticas psicofísicas da ioga e no tantrismo como objeto ritualístico e ponto focal para meditação [Do ponto de vista religioso, o mandala é considerado uma representação do ser humano e do universo; em sua forma menos elaborada, é denominado iantra.] (Fonte: Houaiss)

A artista plástica americana Kathy Klein, de 48 anos, é a criadora destas belíssimas mandalas florais, que aliás, foram batizadas com outro nome: "Danmala" ( Em sânscrito védico, “dan” significa dar, e “mala”, guirlanda de flores), a inspiração veio após algumas meditações, em 2010 e desde o dia da primeira criação, ela não parou mais.

"Hoje a minha mente está em completa paz, e o meu coração, repleto de amor", Diz Kathy. Que após criar a sua mandala e faz isso diariamente,  deixa que seu marido a fotografe e coloque em seu site a sua fotografia.

Site de Kathy Klein:  http://www.danmala.com/




Fonte de pesquisa: http://casa.abril.com.br

Paz e amor! ♥

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Ai, palavras, ai, palavras...


Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras,
sois o vento, ides no vento,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois audácia,
calúnia, fúria, derrota…

A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora…
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam…

*Cecília Meireles

domingo, 28 de julho de 2013

Renova-te

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

*Cecília Meireles

Canção do vento e da minha vida.

Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
O vento varria as luzes,
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos. 
O vento varria os sonhos
E as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres. 
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo. 
Manuel Bandeira

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Jornada Mundial da Juventude de 2013


Trecho do discurso de chegada do Papa Francisco ao Brasil, no RJ, na Jornada Mundial da Juventude, em 2013.

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Vejo o povo gritando, querendo tocar ao menos a mão do Papa. Os jornalistas divulgam com tremenda admiração cada vez que ele fala com alguém, permitindo que alguém simples se aproxime. Fato que me fez pensar, "por que tanta admiração?" Não é uma atitude normal de quem é cristão? O próximo é seu irmão e os humildes são os que mais precisam de seu carinho e aconchego. Jesus não fez o mesmo? Embora seja uma presença importante aos olhos do mundo terreno, o Papa Francisco é um ser humano comum aos olhos de Deus, ainda que tenha uma missão muito especial diante da comunidade religiosa, orientar e cativar todos os que seguem a sua religião. Ele, certamente, entendeu tudo isso, pois age de forma natural, simples e amiga quando está entre todos. Suas palavras são singelas, propostas simples de amor e caridade, seu sorriso carismático toca os nossos corações, apelando o nosso lado mais humano. Que a sua vinda não seja esquecida e que todos nós possamos ajustar nosso comportamento para uma maior solidariedade com os mais necessitados. Que os governantes, os mais abastados e todos os religiosos não fiquem indiferentes aos que mais sofrem, os doentes, os pobres e os renegados. Que jamais nos esqueçamos que somos todos irmãos em Cristo!
"Fé, esperança e caridade!"

Ane S. Barros 
25.07.2013

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Cecília Meireles - Frase


Penso que sendo o céu redondo, um dia nos encontraremos...

*Cecília Meireles

Oficialmente Velho



Neste mês de dezembro completo 70 anos. Pelas condições brasileiras, me torno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas é uma outra etapa da vida, a derradeira. Esta possui uma dimensão biológica, pois irrefreavelmente o capital vital se esgota, nos debilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamente de todas as coisas. De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe, impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente às lágrimas,
Mas há um outro lado, mais instigante. A velhice é a última etapa do crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então entramos no silêncio. E morremos.
A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: “na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenesce o homem interior”(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade devemos encará-la face a face.
Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vida nos impõe. Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis. Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo, filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator de algumas revistas, inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano, submetido ao “silêncio obsequioso” e outros papéis mais. Mas há um momento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha. Então deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: Afinal, quem sou eu? Que sonhos me movem? Que anjos que habitam? Que demônios me atormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? Na medida em que tentamos, com temor e tremor, responder a estas indagações vem à lume o homem interior. A resposta nunca é conclusiva; perde-se para dentro do Inefável.
Este é o desafio para a etapa da velhice. Então nos damos conta de que precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que nos defina. Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgar novos horizontes e criar sentidos de vida. Especialmente para tentar fazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhos que nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com os fracassos e buscando sabedoria. É ilusão pensar que esta vem com a velhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como a etapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.
Por fim, importa preparar o grande Encontro. A vida não é estruturada para terminar na morte, mas para se transfigurar através da morte. Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia. Aí saberemos finalmente quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome.
Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento: “contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para a eternidade”.
Por fim, alimento dois sonhos, sonhos de um jovem ancião: o primeiro é escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e o segundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua e poetisa:”eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver”. Mas como isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus. Parafraseando Camões, completo: mais vivera se não fora, para tão longo ideal, tão curta a vida.




 *Leonardo Boff , em 2008 . 
( Teólogo, filósofo e escritor)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pensar é transgredir

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.

Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente para pra pensar.
Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.

Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.
Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.
Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.

Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.

Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.

Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.

Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.

 *Lya Luft 
(Do livro:Pensar é Transgredir, da Ed. Record)



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Caminhar faz bem!


Andar é um dos maiores prazeres da vida, a meu ver. Ir caminhando e se acompanhado, ir conversando com calma, contemplando a natureza, a cidade, as pessoas que passam, é uma alegria que não abro mão, por nada, nem ninguém, nesta vida! Um direito que conquistei ao nascer, por ter sido privilegiada, por Deus, com duas pernas perfeitas e muita saúde. 

Há pessoas que se tornaram tão dependentes de carro, que ficam admiradas com este meu jeito diferente de agir, como se eu estivesse errada. Só que eu nunca vi uma pessoa que andasse bastante com alguma taxa de colesterol, triglicérides, ou glicemia altas, ou muito acima do peso, ou ainda, com dificuldades circulatórias nos membros inferiores. Ou seja, andar só faz bem à saúde, não polui o meio ambiente, nem estressa as  pessoas!

Não sinta pena de pessoas que caminham bastante, sinta pena de você mesmo, se acabou se tornando dependente de um carro!
Mude seu pensamento, sua postura, mude seu jeito de andar pela vida, vá a pé, sempre que possível, quem ganha é sempre você! 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Palavra de Luz


Muitas vezes, uma palavra, uma só palavra pode ser uma poderosa oração, uma ponte, uma palavra de luz.
Que as nossas palavras sejam sempre ditas sob a luz do coração!

Silêncio




Amizade: quando o silêncio a dois não se torna incômodo.
Amor: quando o silêncio a dois se torna cômodo.

*Mario Quintana

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

*Cecília Meireles

Eu

Aninha e suas pedras


Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

*Cora Coralina

Paz


Com tantas divergências internas e externas, fica cada dia mais difícil mantermos a paz.
A paz não se consegue sem esforço, sem um pouco de silêncio e reflexão.
A paz não cai do céu! É uma conquista diária, diria até, que é quase um estado de ousadia, nos dias de hoje.
Duvidemos da origem de todos os conflitos, mas jamais do estado de paz!
Vivamos a paz, porque ela provê a alegria de viver!
Paz!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Sutileza do Amor

O que nos leva a querer passar a vida inteira com alguém é um mistério.

Você pode fazer a lista infindável do que mais gosta de sua companhia e do que menos gosta, mas nenhuma vai incluir a chave do relacionamento.

É um gesto, uma atitude, uma frase, algo que o toca em particular, que fecha com aquilo que procurava inocentemente desde pequeno.

Meu amigo Felipe se apaixonou pelo jeito que a Fernanda colava o brinco quebrado com bonder, mas ele não desconfia até hoje que foi isso.

Casou com ela depois de vê-la consertando a minúscula joia debaixo do abajur.

Ele briga, discute, discorda da esposa, porém jamais vai se separar. Essa cena despertou uma necessidade incurável da presença dela.

É o motivo do apego irascível. Existiu um quebranto, uma hipnose afetiva, talvez ele tenha se projetado no brinco (ela tentará me salvar quando me quebrar), talvez tenha se enamorado das suas concentradas mordidas de lábios.

O que posso garantir é que Felipe ficou alucinado de ternura: naquele momento decidiu que ela era a mulher de sua vida. Em seu sangue, gravou o rosto da jovem empenhada em salvar o brinco. Com o piscar das pálpebras, tirou a fotografia fundadora do seu amor, um sudário que preservará seu sentimento toda manhã.

Ele mal sabe que o real motivo de sua emoção está no plastimodelismo da infância. É bem capaz de nunca descobrir. Quando enfrentou catapora aos 10 anos, Felipe suportava sua solidão montando aviões. Grudava as pequenas peças de plástico com cuidado para não borrar a cola e estragar o encaixe. O brinco tornou-se mais um de seus aeroplanos.

Já vi gente que se uniu pelo modo de dobrar o guardanapo, pelo modo de morder uma fruta, pelo modo de gritar de susto, pelo modo de amarrar os cadarços.

Uma observação mínima acorda o inconsciente para sempre.

Quanto maior o amor, mais insignificante a origem.

Aceitaremos o cotidiano a dois sem determinar o porquê. Nossa decisão está baseada apenas na intuição. Um movimento nos ofereceu segurança para seguir em frente e aceitar o relacionamento.

Minha namorada tampouco supõe o começo de sua paixão por mim.

Inacreditavelmente, ela me ama pela forma em que tiro a camiseta. Com ambas as mãos, pelas costas, agarrando o tecido pela gola.

Ela acha o gesto protetor, viril, maiúsculo.

As mulheres se despem pela frente, de baixo para cima, levantando a blusa devagar e ritmado.

Como a maior parte dos homens, sou abrupto. Puxo a camiseta com força, livro-me dela, como um animal arrancando a pele.

Chega a ser cômico. E eu pensava que havia conquistado sua afeição com poemas.


*Fabrício Carpínejar

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 15/1/2013
Porto Alegre (RS), Edição N° 17313

Sobre o Silêncio


Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.

Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.

*Mia Couto, no livro "Antes de Nascer o Mundo".